Quem conta: rodrigosales
Conta mais: nunca é demais aprender sobre generosidade e simpatia.
Tenho cortado o cabelo em uma barbearia tradicional e que uns senhores idosos trabalham. Com cerca de 70 anos, o tio que me atende sempre vira a cadeira e não me deixa ver o espelho. Antes de começar, arruma a gola da minha camisa, coloca toalhas de papel no meu pescoço e só depois o avental de proteção. Seleciona os pentes da máquina, separa tesouras e pentes, ajusta a cadeira, troca os óculos.
Demorando muito, mas de forma cuidadosa, ele começou a cortar. Quando me virou para a frente do espelho, eu achei que ele já havia acabado. Avisei a minha amiga para que me buscasse. Logo vi que ele ainda iria demorar. Eu, agoniado com tanta pressa para ir embora, e o senhorzinho com todo cuidado e paciência cortando o meu cabelo, passando a navalha, penteando o cabelo para alinhar a medida dos fios, olhando bem atrás da minha orelha como se seus óculos não funcionassem. Lembrei muito do meu avô.
Eu disse que teria que ir e o elogiei (mesmo achando que ainda não estava bom), dizendo:
– Está ótimo e bonito o corte!
Ele respondeu:
– Tudo bem, agora vou terminar.
Sem necessidade, ainda foi secar, pentear, passar um óleo e pentear mais. E eu impaciente. Olhou por cima da minha cabeça, acho que procurando fios desalinhados. Passou a vassourinha cuidadosamente limpando o meu rosto e foi tirando a toalha e o avental de proteção.
Levantei com pressa, enquanto ele chegava com um espelho na mão para me mostrar a nuca. Agradeci e disse que estava ótimo, e ele, com o sorriso gigante, foi ao caixa para receber o dinheiro.
Após todas as investidas impacientes e despreocupadas da minha parte, o senhorzinho só queria ser gentil. Fiquei envergonhado com tanta generosidade e empatia. Enquanto eu estava apenas preso ao horário e na pressa do dia, o tio da barbearia estava preocupado com a gentileza. Aprendi muito.