Quem conta: anônima
Conta mais: dos encontros rápidos, mas que duram por muito tempo.
Como nos dias rotineiros, eu estava em um ponto aguardando o ônibus pra ir pra Universidade. Era à tarde, cerca de 13h30 e o sol estralava na pele de tão quente, pois minha cidade é uma das premiadas em calor intenso. Estava distraída, pensando na monografia que precisava concluir, até que alguém me chamou:
– Minha filha…
Quando olhei, vi uma senhora de cabelos completamente brancos. Sua pele apresentava intensamente as marcas do tempo. E sua voz era tão delicada e macia que me encheu de um sentimento bom. A senhora continuou:
– Você poderia me avisar quando passar o ônibus que vai para o Major?
Respondi que sim.
Ela se sentou ao meu lado e começamos a conversar. Perguntei de onde vinha e para que estava indo pra aquele bairro. Me respondeu que vinha do Santa Rafaela – um bairro muito distante do seu destino -, e que estava indo a uma igreja. Ela me disse ainda que faltavam só 4 anos para que completasse 100 de idade. Eu fiquei encantada com sua coragem e vontade de viver.
Refleti sobre o meu desânimo e abatimento só por causa de um trabalho de conclusão de curso que eu estava fazendo. Fiquei envergonhada diante de tanto brilho naquele olhar. O ônibus que ela aguardava chegou, me levantei e perguntei ao motorista o destino para ter certeza. Pedi a ele para aguardar, enquanto ela levantou lentamente e eu a ajudei a entrar. Ela se despediu dizendo:
– Deus te abençoe, minha filha. Deus te abençoe.
Eu fiquei com os olhos nela através da janela do ônibus e um riso bobo, até não poder alcançá-la mais. Quando notei, todos estavam comentando o ocorrido. Me disseram que foi encantador o que eu fiz a ela. Mas encantador mesmo foi o que ela fez a mim, através do seu olhar sincero e cheio de juventude. Gratidão! Era isso o que eu senti naquele momento.