Quem conta: simone
Conta mais: toda condição é temporária.
Em 2013 e no ano passado, meu pai teve uma doença muito séria e que demorou a ser diagnosticada. Ele era muito novo (67 anos) e cheio de vida, não esperava passar por aquilo naquele momento. Todos passamos por situações difíceis, cada um de uma forma, e quando chega a gente se assusta.
A doença foi evoluindo dia a dia. Demência.
Como se naquele tempo ele nao estivesse mais ali. Ausência.
Os médicos diagnosticaram com mentalidade de 6 anos… mas acredito que chegou a menos que isso.
Um dia ele não sabia usar o computador, noutro ligar a televisão. Fazia coisas estranhas…
Passou a usar fraldas e, mesmo não tendo muita consciência, ele dizia que era eu quem sabia colocá-las nele. Ficou anoréxico, desidratado.
Sempre ia acordá-lo:
– Bom dia, flor do dia!
Eu e minha mãe ficamos por conta, pra que se alimentasse, tomasse os remédios, banho, água…
Cuidávamos como uma criança, falávamos como se ele fosse uma delas… era a nossa criança!
Os médicos nos orientaram a colocar cuidadores porque não daríamos conta. Mas quem poderia cuidar com tanto amor como nós mesmas? Minha sobrinha, neta dele, brincava e “roubava” na brincadeira para que ele ganhasse. Ela estava “acima” dele, com apenas 10 anos.
Depois de muito tratamento, um dia ele voltou. Graças a Deus!!!
Neste dia, fui ao quarto dele, estava frio… coloquei a coberta, ele acordou.
Enquanto cuidava do café, me perguntou por quê o estava tratando como uma criança.
– MÃE, PAPAI VOLTOU!!!
Ele disse à minha mãe:
– Simone veio aqui no quarto e me cobriu! : )
Engracado, ele se sentiu feliz pelo gesto… não lembra de tudo que fizemos e nunca vai se lembrar. Também nunca mais será o mesmo, seguirá com limitações e, sempre que preciso, voltará ao tratamento para não correr o risco de ficar daquele jeito de novo.
Mas assim é a vida! O que nossos pais fizeram por nós quando bebês, não lembramos. Tive a oportunidade de fazer por ele da “mesma” forma como eles fizeram por mim.